sexta-feira, 25 de setembro de 2009
O amor e o Tempo (Poesia Barroca)
Bem Vindos, a quem ainda não desistiu de inventar dias mais claros.
"O Amor e Tempo"
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba.
Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera !
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito.
São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.
Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho.
De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo.
Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas.
Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?!
O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.
(Padre antonio Vieira)
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